ARTE NA EDUCAÇÃO


Ana Mae Barbosa 1


O último livro de Elliot Eisner, The Arts and the creation of mind (2002), é uma preciosidade,
além de conceituações de Arte e de Educação que o tornam muito próximo de John Dewey e Paulo
Freire ele estabelece uma taxonomia das visões de Arte/Educação ao longo do século XX.
Conceitua Educação como um processo de aprender como inventarmos a nós mesmos. Menos
confiante nas nossas invenções do mundo Paulo Freire nos ensinou que a Educação é um processo
de vermos a nós mesmos e ao mundo a volta de nós. Enquanto Eisner enfatiza Imaginação Paulo
Freire valoriza-a mas sugere diálogos com a Conscientização social.
Para ambos a educação é mediatizada pelo mundo em que se vive, formatada pela cultura,
influenciada por linguagens, impactada por crenças, clarificada pela necessidade (PF), afetada por
valores e moderada pela individualidade. Trata-se de uma experiência com o mundo empírico, com
a cultura e a sociedade personalizada pelo processo de gerar significados, pelas leituras pessoais
auto-sonorizadas do mundo fenomênico e das paisagens interiores. É aí, na valorização da
experiência que os três filósofos ou epistemólogos se encontram, Dewey, Paulo Freire e Eisner. Se
para Dewey experiência é conhecimento, para Freire é a consciência da experiência que podemos
chamar conhecimento. Já Eisner destaca da experiência do mundo empírico, sua dependência de
nosso sistema sensorial biológico, que é a extensão de nosso sistema nervoso ao qual Susanne
Langer chama de “órgão da mente”.
Segundo Eisner, refinar os sentidos e alargar a imaginação é o trabalho que a Arte faz para
potencializar a COGNIÇÃO. Cognição é o processo pela qual o organismo se torna consciente de
seu meio ambiente.Novamente os três gigantes da filosofia da Educação se encontram e nos alertam
acerca da importância da arte para nos permitir a tolerância à ambigüidade e a exploração de
múltiplos sentidos e significações. Esta dubiedade da Arte a torna valiosa na Educação ;Arte não
tem certo e errado, tem o mais ou menos adequado, o mais ou menos significativo, o mais ou menos
inventivo.
Arte na Educação se contrapõe as supostas verdades da Educação e às mais suspeitas ainda,
certezas da Escola.
São muitas as visões da Arte/Educação as quais dependem da ênfase que se dá às funções da
Arte na Educação. Para Eisner as que operam até nossos dias são:

1- Auto expressão criadora
2- Solução criadora de problemas
3- Desenvolvimento cognitivo
4- Cultura visual
5- Como disciplina
6- Potencializadora da performance acadêmica
7- Preparação para o trabalho.

A leitura de Eisner, como sempre, me estimulou a pensar em termos de Brasil e de nossa
trajetória histórica. Quando Ivone Richter me identificou em um de seus textos com as idéias de
Eisner até acreditei, tal meu entusiasmo por cada livro novo dos três grandes teóricos da
Arte/Educação: Efland, Parsons e Eisner.


Professora Titular aposentada da USP, atuando no Doutorado em Arte/Educação que implantou na ECA. Foi presidente da International Society of Education through Art (90-93) e Diretora do MAC - USP(87-93).
Publicou 16 livros sobre Arte e Arte/Educacão. Recebeu o Grande Prêmio de Crítica da APCA, o Prêmio
Edwin Ziegfeld nos Estados Unidos (92),o Prêmio Internacional Herbert Read (99), o Achievement Award
pela liderança em Arte Educação nos Estados Unidos (2002) e a Ordem Nacional do Mérito Científico (2004).
Ensinou em universidades inglesas e americanas. Assinou curadorias de Christo, Barbara Kruger, Oswald de Andrade e Flemming.

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